Recife Metal Law - Entrevista/Interview
Entrevista por Valterlir Mendes
A Templomayor já é uma banda com um bom tempo de estrada. Para ser mais exato, está na ativa desde 2013, porém o nome não era bem difundido. Comecei a conhecer a banda quando sua assessoria de imprensa, na época, me mandava as notas para colocar no site. Foi quando eu ouvi, pela primeira vez, o single “Tribute or Death”. O impacto que essa música me causou fez com que eu corresse logo em busca do seu primeiro e único disco lançado até o momento: “Eternidad Azteca”. Disco vigoroso, pesado, por vezes veloz, por vezes denso, melancólico, porém bebendo diretamente na fonte das boas bandas de Power Metal. Conversei um pouco com o fundador da banda, Fernando Donasi, e na entrevista a seguir ele aborda diversos temas, desde musicalidade, formação da banda, temática... Bem, confira!
Recife Metal Law – Templomayor, “Eternidad Azteca”, LatinoAmerica Metal... De onde surgiu esse interesse pela Cultura Asteca e tudo que se refere à América Latina?
Fernando Donasi - Primeiramente, saudações a todos que estiverem lendo esta entrevista, um gosto poder falar um pouco sobre a banda abertamente. O interesse pela Cultura Asteca literalmente caiu no meu colo. (risos) Eu estava organizando algumas coisas no quarto, quando ainda morava com meus pais, e caiu um livro muito interessante sobre os astecas. Comecei a ver as imagens e quando percebi já estava a mais de uma hora lendo o conteúdo do livro. Na mesma hora eu já tinha um papel anotado com todo o disco planejado, os títulos das músicas, e o assunto que cada uma iria contar. Depois foi só trabalhar a parte instrumental e criar as letras especificamente sobre cada título que eu anotei. A partir daí não faria mais sentido falar sobre dragões e castelos, como na maioria fazem as bandas deste estilo. Então decidi que os temas da banda seriam definitivamente focados em nosso povo, nosso continente. Foi então que decidi sobre incorporar instrumentos andinos ao invés de orquestrações.
Recife Metal Law – A banda surgiu em 2013, mas, entre singles, apenas um álbum lançado. Por que o Templomayor não produz mais registros, apesar de seus sete anos de atividades?
Fernando - Esta é realmente uma questão bem intrigante... Começando pelo aspecto de que a banda inicialmente era um projeto solo, então eu fazia tudo, inclusive com relação aos investimentos. O que as bandas convencionais dividem entre quatro ou cinco pessoas, eu tenho que gastar sozinho. Essa foi uma dificuldade que fez com que as gravações do disco durassem mais de três anos. Porém aí já tem outros problemas, que por questões éticas eu não vou mencionar, mas tive grandes dificuldades com o contrato de gravação, pois como eu tinha pressa... paguei tudo adiantado. Acreditava que o disco ficaria pronto em questão de três meses, mas alguns momentos quase desisti. Além de três mudanças de endereço, o estúdio chegou a perder meus arquivos. Se eu não tivesse os ‘backups’ teria desistido. Mas tudo é um aprendizado, você não pode pagar o pedreiro antes de ele terminar a obra. Com isso a banda perdeu bastante nessa linha do tempo.
Recife Metal Law – “Eternidade Azteca” contém nove faixas, sendo que “Tribute or Death” tem duas versões, sendo uma com Roberto Castiglioni nos vocais, enquanto que “Rise of Tenochtitlan” tem uma versão em espanhol, “Arriba Tenochtitlan”. Já “Mexicas” é uma faixa instrumental de introdução. Esse registro estava programado para ser um EP e não um álbum completo?
Fernando - Não, apesar deste tema das versões, sempre foi feito com o conceito de álbum. Um EP normalmente envolve duas ou três faixas apenas para apresentar uma banda ao público. Definitivamente não é este o nosso caso. Tem ainda a versão de “Back In The Village” do Iron Maiden, que ficou fantástica, mas preferi não colocar na mídia física para não ter problemas com direitos. Mas ela está em nosso canal do YouTube: youtube.com/templomayormetal.
Recife Metal Law – Você é o responsável por toda a parte criativa do álbum, mas as fotos de encarte ainda trazem Fernando Dainese (bateria) e Rafael Marigo (baixo). Qual a participação de ambos os músicos no processo criativo do álbum?
Fernando - No processo de composição em si não houve participação. Depois que eu tinha as músicas escritas convidei o Fernando Dainese e o Rafael Marigo para se juntar a banda e gravar. Com o passar do tempo estou procurando mudar o conceito de trabalho solo para uma banda de fato. O disco jamais seria o mesmo sem o estupendo trabalho de bateria que o Fernando “Tropz” fez. O Rafael Marigo se juntou, mas o Tito Falaschi já havia gravado os baixos.
Recife Metal Law – O álbum é repleto de convidados especiais. Além do já citado Roberto, ainda, nos vocais, tivemos Manuel Cagina e Leandro Caçoilo. Qual a importância da participação desses vocalistas nas músicas? Pergunto isso, porque em termos vocais, não há uma diferença gritante entre as músicas.
Fernando - De fato eu poderia perfeitamente ter cantado o álbum todo na íntegra, porém se analisar esses convidados, notará que eles agregam muito valor ao disco. Cada um deles está entre os melhores vocalistas de seus países, Argentina, México e Brasil, respectivamente. Então me parece muito bom que não haja uma diferença gritante quando estou cantando com esses caras consagrados. O Manuel Cagina foi uma questão de honra. O disco conta a história dos astecas, eu precisava de um mexicano nesse trabalho para criar mais raízes com aquele país, o que funcionou muito bem. A maioria das visitas em nossa página são provenientes do México. No caso do Roberto Casti, me tornei amigo dele na Argentina, gravei uma faixa de guitarra para sua banda, Unreal. Ele me ajudou muito a trabalhar a pré-produção do disco, softwares, dicas, então convidá-lo foi inevitável. Sem contar que eu teria mais um representante estrangeiro, ajudando a levar a música do Templomayor além de nossas fronteiras. Já o Leandro Caçoilo foi meu professor por alguns meses, então decidi convidá-lo não apenas por gratidão aos seus ensinamentos, mas também aquela coisa de você ter um ídolo seu cantando no disco.
Recife Metal Law – Ademar Farinha foi responsável por executar instrumentos como a quena (flauta de origem Latino Americana) e zampoña (flauta de origem peruana). E esses instrumentos, sim, acrescentaram melodias bem interessantes e diferenciadas à musicalidade do Templomayor. Esse músico já fazia parte dos planos da banda quando começaram a produzir o ‘debut’ álbum?
Fernando - Não, não fazia parte. Foi uma sorte tremenda ter encontrado as pessoas certas no momento certo, que me levaram até o Ademar Farinha. Eu criei todas as melodias, estava utilizando samplers, mas não chegavam nem perto da atmosfera que o disco precisava. Quando decidi que queria os instrumentos verdadeiros, eu não tinha a quem recorrer. Cheguei a ir em feiras de bolivianos/peruanos aqui em São Paulo em busca de alguém para gravar. Quase fechei com um desses músicos de rua. O Ademar é um patrimônio incalculável nesse trabalho. Eu mandei os samplers para ele, quando ele me devolveu uma faixa para eu ver se eu aprovaria... não havia como expressar o quanto me agradou!
Recife Metal Law – Tito Falaschi, além de mixar e masterizar o álbum, ainda participou tocando baixo e fazendo vocais. Como você analisa todo o trabalho de Tito para esse disco?
Fernando - A participação dele, enquanto músico, foi fenomenal. Ele também dividiu as vozes comigo na versão cover do Iron Maiden que mencionei, criou linhas de baixo espetaculares, trouxe ao disco o nível de profissionalismo que estava precisando quanto a sonoridade.
Recife Metal Law – As músicas, como não poderia deixar de ser, são uma viagem pela Cultura Asteca. Houve um estudo prévio para criar a parte lírica de “Eternidad Azteca”, além do livro encontrado em casa? Algum tipo de pesquisa mais aprofundada?
Fernando - Sim, muito estudo! Não se pode fazer um disco conceitual sem uma pesquisa digna desse feito. Além daquele livro que encontrei ao acaso, busquei muitas outras fontes. Não está fora de cogitação falar mais sobre os astecas no futuro.
Recife Metal Law – Esse disco é contagiante e altamente indicado para quem gosta de um Power Metal de alto nível. Músicas como “Tribute or Death” e “Rise of Tenochtitlan” (em ambas as versões) chamam a atenção por sua pegada com melodias apuradas, carregadas de peso e velocidade bem dosada. Para quem ainda não conhece o Templomayor, qual música você indicaria para que o ouvinte tivesse uma ideia da sonoridade da banda?
Fernando - É difícil até hoje decidir sobre isso. Quando as pessoas se interessam eu sempre mostro pelo menos duas, depende muito da pessoa que me procura. Normalmente revezo entre “Sacrifice For The Sun” e a “Exocet”, que faz parte do EP “Exocet” (2019). É muito gratificante que as pessoas em geral sempre gostam do material, colocando o disco no mesmo nível das bandas grandes da cena.
Recife Metal Law – Sabemos que o ano de 2020 está praticamente perdido, em razão da pandemia que assola o mundo. Mesmo assim, como estão os planos da banda para um possível novo álbum e para shows?
Fernando - Os planos estão a FULL! Ainda este ano devemos lançar o disco “Malvinas Argentinas”. As músicas já passaram pela pré-produção e em julho/agosto/setembro/2020 ocorrerão as gravações e mixagem. Este disco terá arranjos bem diferentes do “Eternidad Azteca”, pois a temática abordada é a Guerra das Malvinas. Então este disco tem alguma mescla de tango, pianos, mas mantendo a mesma essência do Templomayor! Sobre a pandemia... bem, aproveitei para escrever o disco que virá depois do “Malvinas Argentinas”. Se tudo correr bem, teremos um disco novo também em 2021. A ideia é correr atrás do tempo perdido. Shows também estão nos planos logo que tudo se “normalizar” no planeta. Essa questão da pandemia também nos fez decidir por incorporar a discografia da banda um disco chamado “Origen Archtype” de 2007! O fato é que o Templomayor é a continuação do trabalho feito na banda Archtype. Inclusive, o disco “Eternidad Azteca” deveria ter sido na realidade o segundo disco da banda Archtype, porém o resto da banda não estava muito engajada e resolvi fazer como disco solo. Posteriormente o Archtype “acabou”. Na verdade, foi como uma mudança de nome para Templomayor, já que eu e meu irmão Henrique Xixo fomos os únicos remanescentes, além de autores de todo o material. Então, se uma pessoa gosta do “Eternidad Azteca”, certamente vai gostar do “Origen Archtype”, mesmo que não tenha o mesmo nível de produção. Mas estamos falando do mesmo estilo de compor Power Metal.
Recife Metal Law – Fernando, grato por essa entrevista bastante esclarecedora. Caso queira adicionar algo mais ou deixar suas considerações finais, o espaço é seu.
Fernando - Agradeço muito ao Valterlir Mendes e equipe do Recife Metal Law! Parabenizo o portal! Tem tudo para prosperar. A cena Metal tem se destacado no nordeste e é desse tipo de mídia que bandas como o Templomayor precisam para conseguir um pouco mais de visibilidade nesse saturado mercado musical. A você, que leu a entrevista até aqui, que já conhecia a banda ou que vai procurar escutar depois de um primeiro contato, um grande abraço! Quero deixar aqui os nossos contatos. Sintam-se à vontade, estamos acessíveis para todos.
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